Militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outras organizações promoveram nesta quinta-feira ações contra a liberação comercial de organismos geneticamente modificados (OGMs). Em Brasília, um grupo estimado em 100 pessoas pela Polícia Militar (e em 300 pelo MST) invadiu e forçou a interrupção de reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) que analisava pedido de liberação de eucalipto transgênico.
Em Itapetininga (SP), cerca de mil mulheres invadiram a sede da empresa Futuragene, subsidiária da Suzano Papel e Celulose que desenvolve pesquisas com biotecnologia. De acordo com a companhia, foram destruídas estufas com mudas de eucalipto transgênico, e os prédios, pichados.
Avaliação
De acordo com a empresa, a árvore vem sendo avaliada em campo desde 2006 e apresenta 20% de aumento de produtividade em comparação com o eucalipto convencional. A Futuragene cita, como benefícios do OGM, o aumento da riqueza, da arrecadação de impostos e da competitividade da indústria nacional. “Com o aumento da produtividade, poderá haver redução da área de plantio, menos liberação de carbono e redução de transporte, já que as distâncias entre o campo e as fábricas serão reduzidas. Além disso, terras disponíveis poderão ser direcionadas para outros usos, como preservação ou produção de alimentos”, informou a empresa por meio de nota. No entanto, não há referências a riscos ambientais ou à saúde humana.
Ainda não há no mundo nenhuma experiência com plantios comerciais de árvores transgênicas.
Assim que a reunião foi interrompida, a assentada da reforma agrária Atiliana Brunetto, da direção nacional do MST, se dirigiu aos membros da CTNBio: “A quem vocês estão servindo?”, indagou. E ela mesma respondeu: “Às empresas multinacionais. A liberação de Transgênicos não se faz em nome do desenvolvimento, mas em nome do lucro.
Não queremos mais Transgênicos.
Queremos comida saudável”, disse. Também se dirigindo aos conselheiros, o engenheiro florestal Fábio Miranda prometeu mais mobilizações: “A CTNBio não terá mais sossego enquanto não atender aos interesses do povo brasileiro. Tenho certeza de que quem está aqui aprovando os Transgênicos compra comida na feirinha de orgânicos porque não tem coragem de comer produtos cheios de agrotóxico”.
Certificação perdida
O plantio comercial de eucalipto transgênico pela Suzano implicará na perda da certificação da FSC (Forest Stewardship Council), organização não governamental com sede na Alemanha, presente em mais de 80 países e um dos maiores sistemas de certificação florestal do mundo. De acordo com a secretária executiva da FSC no Brasil, Fabíola Zerbini, a Suzano deverá perder a certificação se passar a produzir comercialmente o eucalipto de laboratório, o que causará impacto no mercado, segundo ela. “A cadeia de papel tem a certificação como um requisito mínimo. Imagino que o impacto seja muito grande”, disse. A organização, que lançou estudo sobre riscos da produção florestal no Brasil, onde o plantio de Transgênicos aparece como risco baixo, já admitia rever o documento. “Sabemos que esse item terá de ser revisado”, avaliou Fabíola.
Antes da invasão da reunião da CTNBio, a comissão já havia aprovado duas variedades de milho transgênico, um deles resistente ao herbicida 2,4-D e o outro, aos herbicidas glifosato e glufosinato de amônio. Segundo a Associação Gaúcha de Proteção da Natureza (Agapan), o 2,4-D (ácido diclorofenoxiacético) era, com o 2,4,5-T, um dos componentes do dessecante agente laranja, usado na guerra do Vietnã. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica o 2,4-D como extremamente tóxico para a saúde (Classe I).
De acordo com a CTNBio, as duas variedades de milho transgênico liberadas para comercialização são “tão seguros quanto os seus equivalentes não geneticamente modificados”.
Fonte: Jornal do Commercio
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