
Os envolvidos no novo trabalho se dedicam a compreender a destruição do ozônio sobre a Antártida desde que o fenômeno foi descoberto. “Eu fiz parte do grupo que ajudou a mostrar que a perda de ozônio foi causada pelos CFCs”, conta ao Correio Susan Solomon, uma das autoras e pesquisadora do Departamento de Estudos Climáticos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.
O CFC é uma espécie de cloro que pode ser usado na fabricação de aerossóis, isolantes e geladeiras. Com o alerta gerado pelos pesquisadores, diversos países extinguiram ou diminuíram consideravelmente seu uso a partir da década de 1990. No entanto, depois de lançado, o gás permanece muito tempo na atmosfera, continuando a causar danos por décadas. Por isso, a necessidade de análises que verifiquem se as ações tomadas realmente funcionaram. “Os produtos químicos não desaparecem imediatamente quando paramos de produzi-los. Eles têm uma vida útil de cerca de 50 anos. Agora, eles começaram uma lenta decadência. Isso significa que devemos analisá-los mais vezes”, explica Solomon.
Como previsto
Para realizar a medição, os cientistas contaram com a ajuda de satélites e balões meteorológicos munidos de sensores que permitem uma análise química da atmosfera. Os dados foram colhidos entre 2000 e 2015, sempre nos meses de setembro, quando os compostos acumulados durante todo o ano na Antártida começam a se dissociar, iniciando uma destruição em larga escala, que dura até novembro.
Os cientistas notaram reduções consideráveis nos danos durante esse período. “Fomos capazes de mostrar que a cura está acontecendo graças a uma consistência encontrada em várias medições. Vimos que o tamanho do buraco de ozônio em setembro está ficando menor. Seu tamanho médio durante esse mês diminuiu cerca de 4 milhões de quilômetros quadrados em 15 anos, quase metade da área do Brasil”, informa Solomon. “Ele, contudo, ainda é muito grande, com um tamanho médio de aproximadamente 17 milhões de quilômetros quadrados. Por isso, a camada ainda não está completamente curada, mas está melhorando”, completa.
A cientista destaca que a diminuição do buraco acompanha as reduções da quantidade de gases nocivos detectados. “O encolhimento do buraco de ozônio em setembro foi consistente com a queda do cloro na atmosfera hoje. Isso quer dizer que o buraco de ozônio já está se recuperando, o que é maravilhoso na minha opinião. O mundo decidiu tomar uma atitude em relação a esses produtos químicos, e o planeta está respondendo como esperávamos”, comemora.
Aquecimento
Apesar dos resultados positivos, os pesquisadores destacam que a atenção deve ser mantida, especialmente para que a solução encontrada décadas atrás se transforme em problema. “Nós já eliminamos as moléculas que causam a destruição do ozônio, mas alguns dos produtos químicos que as substituíram contribuem para o aquecimento global“, alerta Solomon.
Para Rafael Loyola, diretor do Laboratório de Biogeografia da Conservação da Universidade Federal do Goiás (UFG), o estudo traz muitos dados e modelos para análise que dão validade aos achados. “Com essas informações temos provas suficientes para dizer que o buraco está se fechando, e isso tem ocorrido devido à diminuição do CFC, vilão principal do ozônio. A preocupação, agora, é o gás carbônico, que também influencia nesse estrago, por isso é importante continuar a luta para a redução, como o Acordo de Paris, assinado por diversos países em dezembro passado, na COP 21”, avalia o especialista, que não participou do estudo.
A recuperação do ozônio é essencial para o bem-estar de todos no planeta, principalmente para evitar danos à saúde humana, lembra Loyola. “O ozônio é um grande filtro de radiação ultravioleta, que, caso atinja a Terra, pode prejudicar muito os animais e também as plantas, que não conseguirão fazer a fotossíntese, um processo essencial para sua sobrevivência. Já para os humanos, os riscos são os tumores. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), para cada 1% de perda da camada de ozônio, ocorrem 50 mil novos casos de câncer de pele”, explicou o especialista.
Os pesquisadores darão continuidade ao estudo. “Nosso próximo trabalho buscará entender melhor o que ocorre ali e quanto tempo vai demorar para que a camada se cure totalmente”, adianta Solomon.
Estudos renderam o Nobel de Química
A indústria começou a usar os gases compostos de cloro, flúor e carbono (CFCs) na década de 1930, na fabricação de refrigeradores. Depois, durante a Segunda Guerra, eles foram integrados à produção de aerossol. Nos anos 1970, os pesquisadores Paul Crutzen, Mario Molina e Sherwood Rowland decidiram investigar que tipo de reações químicas a emissão de toneladas desses gases causava na atmosfera. A iniciativa pioneira dos três renderia a eles, em 1995, o Prêmio Nobel de Química.
Foi a partir do questionamento do trio que o British Antartic Survey começou a monitorar a atmosfera sobre o Polo Sul. Comparando dados desde a década anterior, os cientistas chegaram, em 1985, à conclusão de que a camada de ozônio na região sofria uma diminuição todo início de primavera, quando o Sol reaparece. O que se descobriu mais tarde é que, durante o inverno, nuvens se formam sobre a Antártida e geram reações químicas que ativam substâncias capazes de destruir o ozônio. Com o retorno do Sol, essas substâncias (presentes nos CFCs) reagem, “corroendo” a camada atmosférica.
Em outras partes do mundo, a camada mostra uma perda na ordem de 4%, mas em nenhum lugar ela é tão grande quanto na Antártida. Em 1996, foi constatado que um pequeno buraco passou sobre o Reino Unido. O Hemisfério Sul, porém, é o mais ameaçado. Já foi constatado também que houve uma pequena degradação na camada sobre os trópicos.<b< div=””>